Conselhos de Administração inchados e investidores calados.
A experiência de quase 30 anos transitando em conselhos de administração, ora como conselheiro, ora como gestor de participações acionárias, me permite afirmar que conselhos com mais de 7 membros tem a sua produtividade prejudicada.
Reuniões com 10 membros (Bradesco), 11 (CCR, Braskem e AMBEV), 12 (Itaú e
Natura), 13 (Vale) e até 14 conselheiros (Klabin), ficam parecendo assembleia
anual do condomínio Maragato ou reunião de pais na creche “Pintando o Sete”.
Como conselheiros são, por natureza, indivíduos com o ego “inflado”, a
produtividade fica ainda mais prejudicada – conheço gente que não sossega se
não “usar a palavra” pelo menos 3 vezes em uma reunião.
Soma-se a isso os diversos comitês de assessoramento, com mais de
uma dezena de profissionais externos em algumas empresas, e temos praticamente
uma república cartorial - Conselhos inchados, quase pachorrentos, alguns com
pomposos cargos de vice-presidentes e copresidentes para dar notoriedade (e
remuneração extra é claro) para conselheiros “diferenciados”.
Tudo isso para satisfazer única e exclusivamente o desejo dos
grupos que comandam essas empresas, mesmo nas “empresas sem dono”, por vezes um
vergonhoso loteamento de vagas entre famílias – benefícios para alguns, custos
divididos por todos os acionistas. Tem até conselho fiscal de empresa do Novo
Mercado com 4 membros !!!
É claro que investidores devem eleger conselheiros, no exercício
pleno do direito de voto. Já nos dizia o guru Robert Monks: “Onde começar?
O lugar onde começar é com o conselho. A maneira como se transmite o desejo de
algum tipo de mudança é por meio da efetivação da mudança no conselho" (do
livro "Mudando de lado" de Hilary Rosenberg, Ed. Campus 2000).
Mas o que vemos nas assembleias são investidores que se limitam a votar
burocraticamente na ocupação de vagas e definição da verba global, sem atentar
para o tamanho dos conselhos e muito menos para a distribuição da verba (sobre
o tema veja as postagens de 16/4/23 - https://www.blogdagovernanca.com/2023/04/remuneracao-de-presidentes-de-conselhos.html
- e de 11/11/17 https://www.blogdagovernanca.com/2017/11/os-presidentes-de-conselho-mais.html).
Vale registrar que na AGO da CCR, realizada em 19/4/23, apresentei
proposta de redução do conselho de 11 para 7 membros (seriam 4 do grupo de
controle e 3 independentes), mas só obtive o apoio de um único acionista, o prestigiado
gestor de recursos Dynamo: o resultado da votação foi 1.739.816.590 (99,09% dos
votos válidos) contra 11.217.085 (0,64% - eu só tenho 8 ações rsrsrs), uma
goleada estrondosa pela manutenção do status quo. Mas ano que vem tem mais...
"Mesmo com poucas chances de sobrevivência, que se morra em combate. Sensatos, resistam." (da crônica "A nova minoria" de Martha Medeiros)
Abraços fraternos,
Renato Chaves
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