Liberalismo regulatório é sinônimo de frouxidão?
Na última postagem tratei do caso “Qualicorp”, que terminou com o perdão
dos conselheiros de administração pelo Colegiado da CVM, por unanimidade,
contrariando a posição da competente área técnica (sou da linha que acredita
que uma acusação bem fundamentada é meio caminho para uma justa punição).
Esse perfil do Xerife, que vem mantendo conselheiros de administração como
seres inimputáveis, parece estar incomodando os investidores. O desafio de como
provar a diligência de um conselheiro com atas redigidas na forma de sumário
permeia as decisões do Xerife (detalhe: o artigo 130-§ 1º da Lei 6404 trata da
redação da forma de sumário para assembleias... Usar esse artifício nas
reuniões de conselho não passa de um jeitinho-gambiarra para não dizer nada
para o público externo). Que tal colocar o ônus da prova no colo dos
conselheiros? Sim, conselheiro calado é conselheiro negligente, por princípio. E
o conselheiro que só fala deve ter em mente que palavras se perdem no vento; o
registro de seus questionamentos é a única forma de provar diligência.
Reforçando essa minha percepção o colunista da revista Capital Aberto,
brilhante advogado Raphael Martins, nos presenteia com um artigo que aborda
esse viés liberal do Colegiado (https://capitalaberto.com.br/secoes/colunistas/o-colegiado-liberal/ - não assinantes da revista podem ter acesso a 3 matérias
por mês mediante um cadastramento prévio). Ao tratar de 3 casos paradigmáticos,
o artigo conclui que “sob outro ângulo, se o conselho de
administração fosse uma competição de salto em altura, o
regulador colocou o sarrafo regulatório o mais próximo possível
do chão”.
É isso, esse “pensamento liberal” que apoia voto plural e outras
esquisitices, coloca a régua regulatória próxima do chão.
Mas 2021 não foi um ano completamente perdido; com a Resolução nº 59, de
22/12/21 (reforma da Instrução nº 480 – disponível no link https://www.gov.br/cvm/pt-br/assuntos/noticias/cvm-promove-alteracoes-na-instrucao-cvm-480), a CVM dá um passo importante ao exigir novas informações a serem prestadas, a
respeito de aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa (ASG),
acompanhando tendência mundial e os anseios de investidores sobre o tema, contrariando
a vontade das empresas listadas representadas pela toda poderosa e sempre retrógada
associação. Assunto para uma próxima postagem.
Abraços fraternos,
Renato
Chaves
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