Está cada vez mais difícil explicar o mercado de capitais brasileiro.

 


Como explicar para um investidor estrangeiro que temos acionista controlador processando a empresa controlada? Tendo a corrupção como origem do caso, os valentes irmãos-controladores querem ser ressarcidos pelos gastos que tiveram com multas originadas em delação premiada. Ou seja, usaram a empresa para corromper e agora alegam que o ganho foi de todos os acionistas. Vamos dizer que nos pastos e no Congresso Nacional vale tudo?


E como explicar que um grupo é considerado inidôneo para contratar com o Estado do Paraná em um dia (28/10), no dia seguinte (29/10) ganha a concessão para explorar a estrada mais importante do país? A decisão no Paraná foi algo isolado, dirão os sábios doutores de plantão, mas o carimbo de empresa corruptora está lá, com direito a delação premiada e até fato relevante !!!


Acreditem, tem ex executivo de empresa listada que admite ter liderado um esquema que pagou US$ 250 milhões em propinas, foi condenado a 20 meses de detenção nos EUA, além de multa de US$ 2,2 milhões, mas não está inabilitado pelo nosso xerife. Como explica isso? Por essa e outras, como o uso de termos de compromisso para “engavetar” infrações graves (especialmente insider trading), é que o xerife vira chacota no mercado. Nos grupos de Whatsapp que discutem governança corporativa tem até meme com a figura de um xerife dormindo, visão também da jornalista Adriana Fernandes, que na sua coluna de 04/11/21 no jornal Estado de SP, afirma que a CVM “nunca teve dentes para morder. Mas agora não se dá nem ao trabalho de rosnar (https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,adriana-fernandes-cvm-jair-bolsonaro-privatizacao-petrobras,70003888751).”


Vamos falar de sustentabilidade... Como explicar que uma empresa envolvida em esquemas de corrupção (com parágrafo de ênfase dos auditores externos), e com provisões de R$ 9,2 milhões para futuras indenizações decorrentes de acidente geológico (com registro do tema como PAA - principais assuntos de auditoria), é convidada pela B3 a responder o questionário para definição do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)?


E a transparência? Como explicar que as empresas brasileiras, de forma sorrateira, brigaram indiretamente contra o regulador na Justiça por anos para evitar a divulgação das remunerações mínima, média e máximas de seus Administradores?


Por fim, como explicar o amém do regulador para voto em conflito de interesses acachapante, permitindo o voto de executivos em assembleia para deliberar um contrato que previa pagamentos milionários para os próprios bolsos?


Como diria o ilustre pernambucano Lenine “às vezes parece até que a gente deu um nó” (na letra de “Hoje eu quero sair só”).


Abraços fraternos,

Renato Chaves

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