Investidores estão considerando aspectos ASGI na seleção de ativos. Será?
Modismo? Puro blábláblá? Propaganda enganosa?
Afirmar que não investe em empresas que fabricam armas, exploram
trabalho infantil/trabalho escravo ou que fazem extração de ouro em terra
indígena na Amazônia parece cair em um senso comum.
Mas será que os grandes investidores realmente observam os aspectos ASGI
na seleção de ativos ou usam a teoria do “veja bem”? A empresa cometeu um malfeito,
mas veja bem... o posicionamento privilegiado no mercado, o retorno anual, o
EBITDA, o conselho de administração remodelado com figurões, a criação de uma
área de compliance para acabar com a prática de pagamento de propina, etc.... O
rol de “desculpas” é infindável.
Que tal partirmos para exemplos práticos? Convêm avisar que os contextos
apresentados a seguir são “fantasiados” para evitarmos retaliações jurídicas ao
Blog.
Comecemos pela letra G, de governança. Será que esses grandes
investidores penalizam nas suas matrizes de avaliação “aquela” empresa cujos
controladores saquearam o caixa da companhia vendendo para a própria companhia o
seu próprio nome ou pensam que o negócio é tão bom, mas tão bom que uma
usurpadinha nos direitos dos minoritários não dói tanto assim? Em que tópico da
tal matriz entra a análise sobre o comportamento do conselho de administração
na avaliação de negócios leoninos com partes relacionadas e posterior
incorporação da Cia.?
E se juntarmos as letras A de ambiental e I de integridade, será que o
investidor se assusta ao ver, em um único parecer de auditoria, um parágrafo de
ênfase sobre apuração de pagamento de propina e uma anotação de PAA (principal
assunto de auditoria) sobre a provisão de R$ 9,2 bilhões para um desastre
ambiental? Ou vale a teoria do “veja bem” e continua investindo porque a
rentabilidade é boa e o papel faz parte do Ibovespa?
E o pobrezinho do S, que quase ninguém fala? O investidor encara o tema
diversidade de forma séria e pede informações sobre o percentual de negros e
mulheres em cargos gerenciais para depois cobrar uma evolução, ou fica com a
visão acanhada de só questionar a pouquíssima participação de mulheres nos
conselhos de administração? Quando as mulheres chegarão nos conselhos (ninguém
fala de conselho fiscal porque não tem glamour), se existe uma barreira
invisível que limita a ascensão a cargos gerenciais? Já repararam que os
luxuosos relatórios anuais da Administração trazem, quase sempre, fotos de
executivos do sexo masculino e brancos (... muitos carecas com canetas Mont
Blanc no bolso rsrsrs)? Infelizmente, aqui no Brasil, lugar de mulher é na
diretoria de RH, e olhe lá, salvo raríssimas exceções.
Ainda no pilar S nunca ouvi questionamentos sobre a desigualdade salarial
nas empresas, com olhos para as enormes discrepâncias na relação entre a maior
remuneração e a remuneração média dos empregados (no Brasil essa diferença pode
chegar a 663 vezes enquanto a maior relação nos EUA fica em 434 vezes – leia
mais na postagem de 5/10/2020 - https://www.blogdagovernanca.com/2020/10/acorda-magalu-desigualdade-no-brasil.html).
Reflitam e respondam queridos investidores: quantas empresas foram
barradas pela análise dos aspectos ASGI nos últimos 12 meses – deixaram de
entrar ou foram retiradas de suas carteiras?
Resumindo, até que me provem o contrário o blábláblá prevalece no nosso combalido
mercado de capitais.
Abraços fraternos,
Renato Chaves
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