Doação é tudo igual?
A postagem da última
semana trouxe algumas interações interessantes. Infelizmente foram feitas em
caráter privado, por meio de e-mails e mensagens de APPs, e por isso serão
tratadas aqui anonimamente.
Algumas interações
reforçaram o caráter “impeditivo” das doações para partidos políticos; raras
vezes a empresa tem algo escrito em seus códigos/estatutos/políticas.
Diz o texto do Estatuto
Social de uma importante empresa listada: “é proibido pela [Cia] e suas
controladas no Brasil ou no exterior fazer, direta ou indiretamente por meio de
terceiros, qualquer contribuição para movimentos políticos, inclusive
organizados em partidos, e para seus representantes ou candidatos.”
Bonitinho, né? Será que
evita a abordagem de políticos ardilosos, como o famoso mineirinho? Será que
funciona?
De um lado proibição, do
outro libera geral ... Empresa de dono é assim, faz doação ao sabor do vento.
Um bom remédio é a
transparência. Infelizmente a nossa regulação é frouxa sob esse aspecto.
Quem sabe em futuro
próximo a visão do diretor Henrique Machado não prevalecerá? No julgamento do
processo SP-SP2014/0404 temos uma defesa enfática da necessidade de ampla
divulgação de doações políticas, na seguinte linha: “Em seu entendimento, a
doação para partidos ou candidatos em campanha eleitoral é ato destinado a
produzir efeitos perante terceiros, de forma que a ata da reunião que a
delibera deve ser adequadamente divulgada.” (vide notícia divulgada em http://www.cvm.gov.br/decisoes/2017/20170822_R1.html)
Concordo com essa visão:
transparência total para qualquer doação eleitoral !!!
Mas e como ficam as outras
doações?
Já lemos na imprensa que,
em passado recente, empresas listadas usaram subterfúgios para viabilizarem
doações “clandestinas”.
Um caso em fase de
apuração pelas autoridades competentes (será que vai prescrever?) traz uma
empresa listada usando o instituto social do grupo, presidido por um diretor da
Cia., para doar recursos para uma ONG dirigida pela irmã de um famoso político
mineiro. Dá para acreditar em obra social desse “bom samaritano”?
E quem não lembra do
famoso caso de uso de contrato de propaganda como “ponte” para o financiamento
ilegal de políticos (o careca já está solto?)?
Em outra vertente
criminosa, também em fase de apuração infinita pelas autoridades, há suspeitas
de uso de contratos de assessoria jurídica para camuflar esse tipo de falcatrua.
Parece que era tanta grana, dinheiro gordo mesmo, que precisaram de um apartamento/bunker
para esconder a bufunfa.
Reparem que não estou
questionando se R$ 1 milhão é pouco ou R$ 1 bilhão é muito... O que importa
para o acionista é que esse dinheiro saiu da empresa e, infelizmente, pode ser
usado de forma “não republicana”, com impactos negativos e irreparáveis para
imagem da organização.
E reparem que não existem
atas de conselho de administração aprovando tais doações. Ou vocês conhecem
alguma ata? Ajudem-me, por favor.
Daí a necessidade de uma
intensa fiscalização por parte de conselhos fiscais e afins sobre esses tipos
de organização (institutos sociais e culturais), além da adoção de um
procedimento regular de apuração da “coerência” entre valores pagos e serviços
prestados em contratos volumosos de assessorias/consultorias, um prato cheio
para desvios.
O ideal seria a CVM
incluir nos normativos a obrigatoriedade de divulgação dos valores destinados
para institutos, assim como uma demonstração do orçamento anual e a afetiva aplicação
de recursos de cada entidade.
Porque os investidores
estão cansados de receber aqueles livros de capa dura e papel couché matte 170
gr/m² com fotos de crianças sorrindo em escolas e creches com o logotipo da
Cia, produzidos com incentivos fiscais no final do ano, sem que exista
transparência sobre a aplicação desses recursos.
Fiquem bem, fiquem em
casa.
Abraços fraternos,
Renato
Chaves
Comentários
Postar um comentário
Caro visitante, apesar da ferramenta de postagem permitir o perfil "comentário anônimo", o ideal é que seja feita a identificação pelo menos com o 1º nome. A postagem não é automática, pois é feita uma avaliação para evitar spams. Agradeço desde já a sua compreensão.