A inoperância da B3 e CVM: o mercado de capitais tem que parar, o Brasil tem que parar.



Quem não leu deve ler o artigo do Prof. Rodrigo Zeidan, colunista do jornal Folha de São Paulo e colega de Fundação Dom Cabral, com o título “Parem o país” (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/rodrigo-zeidan/2020/03/parem-o-pais.shtml). Ele afirma que
“europeus achavam que dava para ficar em cima do muro, e a tragédia se instaurou”.

No âmbito do mercado de capitais tem que suspender tudo: a realização das AGOs e a publicação de DFs e ITRs, até que a situação seja normalizada. Depende de mudança na Lei? Medidas provisórias estão aí para isso. Ou vamos expor a vida de funcionários das áreas financeiras, RI, jurídico, etc. das empresas só para satisfazer quem está querendo especular nesse momento? Qual o fundamento para um papel cair 15% em um dia para subir 7% no dia seguinte? A empresa parou de faturar, mas no dia sentido despachou um navio abarrotado para a China? Claro que nada aconteceu, o que temos é gente especulando fortemente e quem sabe até manipulando preços.

Uma amiga jornalista me perguntou se as DFs de 31/12/19 deveriam ser refeitas.... Não !!! Só saberemos dos impactos nas empresas depois que a poeira baixar. Alias, parodiando Raul Seixas, o auditor ficou em casa porque sabia que o contador não estava lá (O dia em que a Terra parou - https://www.youtube.com/watch?v=PuZy6gYtU6o).

Infelizmente, se nada for feito agora, as empresas terão que informar nas Notas Explicativas das próximas DFs o número de cadáveres nas portas de suas fábricas e escritórios.

Eu até imagino que, passado o período de isolamento social voluntário, as vendas se recuperarão em uma velocidade surpreendente: demanda reprimida. Eu já tenho uma listinha do que comprar, coisas para casa que só mesmo a convivência diária forçada (e intensa) com louças e panelas me fez enxergar.

Liguei para o 0800 da CVM no início da semana para saber se o prazo para realização das AGOs seria revisto e a simpática atendente me passou o telefone da SEP. Nova tentativa e o assustado funcionário nem trocou duas palavras comigo: é investidor, então o assunto é com a SOI... Nova tentativa, e a resposta burocrática foi “procura no site da CVM”.

Pois bem, o que temos para hoje, além de profunda preocupação e tristeza, é o seguinte comunicado (emitido no sábado 21/3/20 - http://www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2020/20200321-1.html):

“A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informa que não há, neste momento, nenhuma discussão relacionada a interrupção de negócios realizados em Bolsa. Tampouco existe a suposta "pressão" desta Autarquia junto à B3 para que as atividades realizadas pela instituição sejam interrompidas”.

Tudo passa e tudo muda. Nesse momento conturbado podemos ler aquele livro parado na prateleira, ouvir aquela música inspiradora... “Todo cambia”, muda o rumo o caminhante como nos disse a brilhante Mercedes Sosa (https://www.youtube.com/watch?v=SJ9klrcXRVI).

Desejo boa sorte a todos. Vamos precisar.

Um abraço fraterno,
Renato Chaves

P.S.: quando vejo a repórter da Globonews entrevistando o economista de uma gestora de recursos com uma mesa de operações repleta de gente ao fundo logo penso: o mercado financeiro não sabe o que é trabalho remoto? Já sei, não tem como acessar o Bloomberg de casa... Quantos desses dedicados funcionários morrerão nos próximos dias? Quantos familiares serão infectados? A repórter vai morrer? Não estou rogando praga, mas a inoperância dessa gente vai matar muita gente !!!

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