Os coveiros rondam o Novo Mercado.
Crônica de uma morte anunciada: esse
poderia ser o título da postagem, em homenagem ao primoroso livro do gigante
Gabo.
Criado com uma régua de exigências mais
alta para atrair investidores preocupados com as boas práticas de Governança
Corporativa, o Novo Mercado no Brasil caminha para um triste fim, a depender dos
engravatados rapazes dos bancos de investimentos, da nossa pomposa bolsa de
valores e de alguns outros atores importantes, como a famosa associação de
empresas (leia-se controladores inescrupulosos escondidos por trás de uma confraria),
os assessores jurídicos e alguns conselheiros-celebridades.
Os rapazes dos bancos de investimentos
querem é vender, garantir o leite das crianças (o milk melhor dizendo) e um
novo Rolex no pulso, substituindo aquele que foi roubado na saída de Congonhas:
dane-se o mundo que eu não me chamo Raimundo, e por tabela dane-se a tal
governança corporativa.
A nossa bolsa estimula o debate, de
forma até envergonhada, com o discurso de que se as regras não forem
flexibilizadas as empresas abrirão capital lá fora. Que tal mexer nos custos de
manutenção de uma empresa listada ao invés de esculhambar o modelo de
governança corporativa “uma ação um voto” que alinha acionistas?
Que tal
dispensar as empresas listadas do relatório do auditor externo nos ITRs, barateando
o contrato, lembrando que o texto padrão dos auditores afirma que o documento
“não expressa uma opinião de auditoria”? É como chegar ao consultório médico
espirrando muito, responder 3 perguntas (à distância.. nesses tempos de
Coronavírus) e o médico afirmar que você está gripado, mas que aquela não é uma
opinião médica.
Vale lembrar que o meu real é igual ao
seu real, caro Guilherme. Como dizia Bezerra da Silva “malandro é malandro e
mané é mané”.
Os assessores jurídicos escrevem qualquer
coisa para justificar o polpudo cheque, que por sua vez garante a mansão-ostentação
em Nogueira ou adjacências.
A fórmula é captar com pouco custo, com
grande dispersão acionária, o que garante zero de interferência na gestão... o
melhor dos mundos para administradores desalinhados e pouco avessos à modelos
sérios de prestação de contas. Quem habita o condado do Leblon se lembra
daquela empresa cuja AGO durou mais de 8 horas, com acionistas questionando o
CEO maratonista que conseguia a proeza de adotar o modelo "remuneração excessiva-performance
pífia"... Isso sem falar nos controladores inescrupulosos reunidos para o
cafezinho na Av. Santo Amaro, Jardim Paulista.
Ao copiar o modelo norte americano de
ações com super voto, os coveiros do Novo Mercado buscam dourar a pílula com promessas
feitas em slide PowerPoint, privilegiando a falta de transparência, com acionistas
impedidos de solicitar informações, afinal que não tem voto não tem voz...
simples assim.
Será que o nobre deputado que propõe
essa aberração entende que o arcabouço jurídico que protege o investidor nos
EUA é igual ao nosso? Que a nossa CVM está tão equipada quanto a SEC? Temos que
garantir a permanência dos fundadores, sem eles o negócio desanda, afirmam os
fariseus... Mas peralá, a empresa já tem mais de 10 anos na praça !!! Aqui se
cria até contrato para justificar o pagamento de R$ 160 milhões para fundador
não competir com a empresa !!! Argumentos falaciosos que buscam dissimular a
nossa dura realidade.
AMEC já se manifestou contra, esperamos
uma posição firme do IBGC contra mais essa aberração.
Por aqui, no condado de Copacabana, tem muito estoque de bambu e, consequentemente, muita flecha.
Abraços a todos,
Renato Chaves
Comentários
Postar um comentário
Caro visitante, apesar da ferramenta de postagem permitir o perfil "comentário anônimo", o ideal é que seja feita a identificação pelo menos com o 1º nome. A postagem não é automática, pois é feita uma avaliação para evitar spams. Agradeço desde já a sua compreensão.