Assembleias de acionistas no Brasil: tem que melhorar muito para ficar ruim.



Como assíduo frequentador de assembleias gerais de acionistas desde 1996 posso afirmar, sem medo de errar: são eventos burocráticos para “cumprir tabela”, como se diz no mundo do futebol.

Mas agora, com o novo boom (ou seria bolha?) de entrada de acionistas pessoas físicas no mercado de capitais, as áreas de RI tem um desafio pela frente: como transformar as bolorentas assembleias em eventos de interesse para esses novos acionistas. Eu diria até que o desafio é transformar esse tipo de vento em um canal de formação de acionistas-propagandistas, que irão disseminar a satisfação de investir em determinada empresa, algo que vai além dos dividendos distribuídos.

Esse foi o foco da matéria da jornalista Ana Paula Ribeiro, publicada no site Infomoney no dia 28/1/2020 (https://www.infomoney.com.br/onde-investir/salto-no-numero-de-pessoas-fisicas-em-grupo-de-acionistas-impoe-mudancas-a-empresas-da-bolsa/).

Você, querido novo investidor, que pensa que vai chegar à sede da empresa e ouvir dos administradores (seus empregados – você é o patrão !!!) uma convincente prestação de contas sobre as demonstrações financeiras, vá tirando o seu cavalinho da chuva. 

Com executivos mudos, o que te espera é um conjunto de elegantes advogados com seus ternos italianos, regiamente remunerados (precisa contratar advogado externo? Cadê o jurídico da Cia?), que geralmente formam um exército (nunca andam sozinhos) pronto para atacar com uma verborragia sem fim, ao menor sinal de questionamento por parte de acionistas minoritários. E agora esses mesmos advogados, na figura de consultores de emissões, ainda querem empurrar no nosso mercado as chamadas ações com “super voto”, assunto que merece uma postagem especial de tão vergonhoso que é.

Sabe aquela assembleia que você assistiu na WEB, com o Warren Buffett e seu fiel escudeiro Charlie Munger respondendo pacientemente por mais de 6 horas (!!!) perguntas de entusiasmados acionistas (reveja no link a partir do 32º minuto https://www.youtube.com/watch?v=VCwIAnjAqiM)? Esqueça, aqui no Brasil assembleias demoradas duram no máximo 30 minutos. Pode passar desse tempo, a depender da perícia do estagiário do escritório de advocacia no comando do computador (se der errado já temos um culpado), além de um eventual engasgo da impressora.

Desafio a me apresentarem uma única empresa listada no nosso mercado que responda positivamente a pergunta do Formulário de Referência – item 12.2.j: a empresa disponibiliza fóruns e páginas na WEB  destinados a receber e compartilhar comentários dos acionistas sobre as pautas de assembleias?

É isso, o teatro é montado para não ter debate; na grande maioria das vezes uma AGO imita assembleia de condomínio: quem for a favor da aprovação da matéria permanece como está... todo mundo parado por infindáveis segundos.

Abraços a todos,
Renato Chaves

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