Vamos falar de diversidade?
Muito se fala e escreve
sobre a pouca presença de mulheres nos conselhos de administração (vejam nos
links (i) https://www.istoedinheiro.com.br/movimento-30-club-quer-aumentar-presenca-das-mulheres-nos-conselhos-de-administracao/, (ii)
https://veja.abril.com.br/economia/mulheres-sao-apenas-9-em-conselhos-de-administracao-no-brasil/, https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/07/economia/1551992548_346845.html e
(iii) https://congressousp.fipecafi.org/anais/artigos152015/338.pdf).
Pura verdade, os números
não mentem. Mas será que devemos tratar o tema de forma tão limitada: mulheres
nos conselhos de administração?
Como mulheres chegarão nos
conselhos se a barreira existe para os cargos gerenciais?
Você, amiga(o) conselheira(o)
de empresa listada, faça o teste: pergunte qual o percentual de mulheres em
cargos gerenciais na sua empresa.
Seja mais ousada(o) e
pergunte qual o percentual de negros em cargos gerenciais.
Seja até inconveniente e
pergunte qual o percentual de mulheres negras em cargos gerenciais.
Surpresa(o) com os
números?
Será que a sua empresa usa
modelos de seleção “viciados”?
É mulher solteira, 35 anos?
Xiii, já já vai querer ter filhos, sair de licença ...
Já tem filhos? São
pequenos e ela cria os pimpolhos sozinha? Xiii, vai querer sair cedo para
cuidar da criança se ela ficar doente...
Mora na periferia? Xiii,
vai chegar atrasado.
Estudou no Dante Alighieri
e fez Poli? Uau, que currículo !!! Estudou em escola pública e foi quotista em
universidade federal? Xiii... Certamente não teve uma boa formação... Prefiro o
rapaz da Poli que mora nos Jardins, aqui do lado, vem até de patinete !!! Tá na
moda, é pop, é tech, é sustentável....
Viajou 10 vezes para o
exterior? Uau, conhece Paris (1x), Orlando (8x) e NY (1x) !!! Fez intercâmbio
na Islândia, com inglês perfeito para ser trainee? E esse outro, nunca viajou “pra
fora”? Xiii... precisa aperfeiçoar o inglês (e a empresa não tem compromisso
com isso)... Tadinho, não assimilou outras culturas...
E o “jeitão” do candidato?
Que tanto piercing é esse, rapaz todo furado? E o cabelo crespo daquela menina?
Por que não alisa, tá na moda? Reparou a mexa de cabelo azul, onde já se viu
isso ???!!! E essa roupa colorida? Não gostei da roupa e do cabelo, não se
enquadra no padrão na nossa empresa, dirá o sisudo selecionador.
Temos que ter coragem para
mudar essa situação.
Que tal abrirmos os
números de todas as empresas listadas, incluindo no capítulo 14 do Formulário
de Referência as seguintes questões: qual o percentual de mulheres em cargos
gerenciais? E nos demais níveis? Qual o percentual de negros em cargos
gerenciais?
Pela minha experiência
como conselheiro de uma empresa na Bahia (um dos Estados com maior percentual de
negros) os números servirão para uma boa reflexão. Faça o teste, um passeio
pelas áreas administrativas da empresa e compare com o “chão de fábrica”...
Esse é o desafio:
transformar o item 14.1 do documento em um verdadeiro censo sobre recursos
humanos, incluindo diversidade, relação entre maior remuneração e remuneração
média... um sonho... um desafio.
Mais desafiante ainda: que
tal incluir a tal “diversidade” como indicador, influenciando até mesmo metas
individuais dos gestores? Quer uma ajudinha? Dá uma olhada no site do Instituto
Ethos (https://www.ethos.org.br/cedoc/indicadores-ethos-mm360-para-a-promocao-da-equidade-de-genero/#.Xa93ouhKiUn).
Vou fazer a minha parte,
mandando sugestões para a CVM e tentado influenciar as empresas onde atuo...
Abraços a todos,
Renato Chaves
Renato,
ResponderExcluirEstou desenvolvendo um trabalho para um cliente e um dos seus investidores estrangeiros, referência em ESG, bateu em diversidade no CA, foi bem além de gênero e idade, abordou muito a experiência profissional e formação. Ele questiona aonde está a representação da operação, da transformação digital, do consumidor e afins? A concentração de perfis financeiros podem não ajudar a tomar as melhores decisões.
Abraço
Excelentes provocações, Renato!
ResponderExcluirO teto de vidro começa bem antes tanto para mulheres como para negros.
Nos últimos anos houve uma maior presença feminina nos cargos gerenciais, mas nos cargos de diretoria e no conselho está estagnado há 10 anos (2006-2016), segundo a última pesquisa do ETHOS nas 500 maiores empresas do país.
A caminhada é longa, mas é muito bom ter aliados como você nessa jornada!