No embalo do carnaval “enganaram” o general.
Descumpri a promessa de
não frequentar mais assembleias de acionistas, afinal são eventos patéticos,
burocráticos, feitos para “cumprir tabela” e implementar aquilo que o grupo que
controla a empresa deseja. Quanto mais rápida melhor (vejam a postagem de
17/11/18 - https://www.blogdagovernanca.com/2018/11/assembleias-de-acionistas-dando-adeus.html).
E mais uma vez o que se
viu foi um evento com a presença física de alguns Administradores, com CEO e
DRI feito múmias e uma diretora que só fazia caras e bocas na mesa, sem dar um
pio, com o comando do espetáculo nas mãos de um experiente advogado, pago regiamente
para fazer o negócio acontecer, doa a quem doer.
Além da emoção de viajar
em um turbo hélice em um céu repleto de Cumulus Nimbus, com direito a uma bem
executada arremetida na chegada, aprendi muito nesse verdadeiro teatro de
bufões:
·
Devemos rasgar todos os estatutos sociais,
já que a leitura poética permite, por exemplo, que uma cisão de ativos para a
constituição de uma subsidiária, vendida no minuto seguinte, vira um carve-out* e aquisição de controle
atende pelo singelo nome de parceria estratégica/JV. Vale tudo para enganar um astuto
general;
·
Devemos igualmente rasgar a Lei 6404. Como
dito pelo mentor/feitor da referida AGE o artigo 5º da Constituição Federal
basta: “o que não é proibido é permitido”. Chicago na veia... (ou seria
Seattle?);
·
Sob a ótica da constatação anterior (liberdade
total – Estado mínimo - o mercado que se autorregule – os investidores são “grandinhos”
e não precisam de proteção/tutela do Estado), devemos ter em mente que o
regulador não se manifesta antecipadamente sobre irregularidades previamente anunciadas
em manuais de assembleia. Está dito lá na seção “atendimento ao cidadão” do
site: “Não é competência da CVM, órgão de regulação de condutas, manifestar-se
preliminarmente a respeito da legalidade de atos e documentos societários em
geral, ou proferir juízo de valor genérico e antecipado sobre eles, pois não
está entre as atribuições da autarquia decidir quais atos podem ou não ser
praticados pelos administrados (Processo CVM RJ n° 2011-4494)”. Resumindo: depois que o cadáver estiver estirado no chão chame o rabecão e mande a reclamação para posterior apuração (é muito ão...).
Em uma operação repleta de
ilegalidades devemos nos perguntar: cadê o dever fiduciário dos grandes
investidores? Simplesmente omissos? Os fundos de investimentos dos grandes
bancos votaram? Seriam coniventes, de olho em um ganho de curto prazo? (empurra
o papel a R$ 19,80 que tá bom pra caramba – Julinho rindo à toa mais uma vez).
Só falta esses sonolentos investidores aprovarem na AGO um gordo pacote de
remuneração para os habilidosos executivos.
E o banco de
desenvolvimento que viabilizou o crescimento da empresa para gerar
tecnologia/empregos, esqueceu o S pelo caminho? Adeus empregos... Além da
proliferação de Cumulus Nimbus eu vi muita preocupação e tristeza na bem
tratada cidade carinhosamente chamada de Sanja.
Peralá, se não é cisão por
que mesmo foi convocada uma AGE? Quem tem juízo tem medo né? Um gringo
precavido vale por doze.
Se tem venda de
subsidiária não vale o artigo 253 da Lei 6404?
A verdade é que o nosso
mercado de capitais virou uma zona mesmo, com direito a termos de compromissos
para insiders, bandidos presos que não são inabilitados na esfera administrativa,
etc..
Podem me cobrar daqui a 5
anos: não vai sobrar muito dessa empresa para contar a história.
Não gostou do resultado
general? Prepara o cheque para o gigante verde ficar no ar ou vai reclamar em
Delaware.
Abraços a todos,
Renato Chaves
*
O termo em inglês que significa esculpir, talhar em madeira. A melhor expressão
do que temos visto por aqui: operações de segregação de ativos para fugir de
obrigações estatutárias.
Comentários
Postar um comentário
Caro visitante, apesar da ferramenta de postagem permitir o perfil "comentário anônimo", o ideal é que seja feita a identificação pelo menos com o 1º nome. A postagem não é automática, pois é feita uma avaliação para evitar spams. Agradeço desde já a sua compreensão.