Diversidade nos conselhos: como evoluir em uma sociedade conservadora, racista e com cultura sexista?
Todos sabem que conselho
de administração no Brasil é um espaço dominado por homens brancos, de cabelos
grisalhos (alguns carecas), normalmente engenheiros, administradores ou
economistas (alguns advogados e pouquíssimos contadores), de terno e gravata
com uma caneta Mont Blanc no bolso.
Por absoluta falta de
informações nos Formulários de Referência me limitarei a tratar da presença
feminina nos conselhos, sem tratar da questão racial. Mas duvido, repito D-U-V-I-D-O,
que tenhamos mais do que dois negros em conselhos de administração de empresas
listadas.
Os números apresentados na
matéria “Por que as mulheres não chegam ao board?”, da jornalista Anna Carolina
Oliveira no site da revista Exame (disponível em https://exame.abril.com.br/carreira/por-que-as-mulheres-nao-chegam-ao-board/)
assustam mais do que com o desempenho do meu querido Botafogo no ano passado: somente
7,7% de participação de mulheres em conselhos de administração no Brasil? Lá
fora esse número chega a 15%, segundo informações da mesma matéria.
Fiz um rápido levantamento
no respeitado Anuário de Governança Corporativa das Companhias Abertas da Revista
Capital Aberto 2017-2018, com informações dos Formulários de Referência das 100
empresas mais negociadas na bolsa brasileira (a versão digital contém 150
empresas – para assinantes em www.capitalaberto.com.br),
e o resultado foi bem parecido: 7,3%, com 55 mulheres em um universo de 754 vagas
de conselheiros.
Vou logo avisando: sou
contra cotas para mulheres em conselhos.
Avalio que o problema está na barreira
que existe para a ocupação de cargos gerenciais. Isso sem falar na desigualdade
de remuneração (a pequena Islândia tem muito a nos ensinar).
A professora de gestão de
pessoas do Ibmec, Silvana Andrade, nos revela na referida reportagem que “um dos
motivos para o lento avanço feminino na hierarquia corporativa é a cultura
sexista e conservadora da sociedade, responsável pelos estereótipos de gênero
que são reafirmados diariamente nas diversas mídias, nos contextos familiares
e, é claro, nos ambientes de trabalho”. E nos diz ainda que “é um fenômeno
chamado de ‘teto de vidro’, uma barreira invisível, porém rígida, que limita o
alcance de determinadas posições para determinados grupos”.
Diante dessa realidade,
não causa surpresa vermos somente uma mulher entre os 23 executivos premiados pela publicação “Executivo
de Valor-2017” (http://www.valor.com.br/especiais).
Como furar essa barreira?
Que tal começar criando a cultura de oferecer oportunidades iguais nos
processos de seleção para cargos gerenciais? Como assim? Fácil, basta respeitar
a proporção entre homens e mulheres de cada organização, replicando a mesma
proporção nos processos de seleção... A relação na sua empresa é 60% homens e
40% mulheres? Então todo processo seletivo terá que “copiar” essa relação, com no
mínimo 40% das candidatas do sexo feminino. Penso que é uma forma de criar a
oportunidade.
Está lançado o debate,
lembrando que sou um “não especialista” no assunto, mas tão somente um nano
investidor que fala muito, um incomodado que enxerga na diversidade algo
positivo para as empresas e, por tabela, para toda a sociedade.
Abraços a todos,
Renato Chaves
Nota
da redação: a presente postagem foi rascunhada ainda novembro, quando da
leitura da citada reportagem, não tendo sido influenciada pelo eloquente
discurso da gigante Oprah.
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