Insider trading parece promoção de loja de eletrodomésticos: todo mês tem novidade.


Peço desculpas se pareço repetitivo, mas como todos os meus queridos leitores sabem o Blog da Governança funciona como uma plataforma de ativismo digital, oferecendo uma visão sobre fatos do cotidiano do mercado de capitais brasileiro, com foco nas práticas de governança corporativa. Trata-se de uma visão recheada de experiências em conselhos, salas de aula, participações em “trocentas” assembleias e na gestão de ativos; uma visão livre, sem medo de quebrar cristais; extrovertida, sem o admirável profissionalismo dos manuais de redação; sem lugar para o certo ou o errado, mas tão somente visões para fomentar o debate com provocações atuais.

Assim sendo, não tenho como fugir do tema “insider trading” quando me deparo com um diretor financeiro, de relações com investidores e novos negócios que compra 10.000 ações da empresa 15 dias antes da divulgação do resultado anual de 2015 (em período vedado, repito período vedado !!!). Como o papel subiu incríveis 83,67% o inocente administrador teve um ganho potencial de R$ 11.159,00, segundo a acusação formulada pela competente área técnica da CVM (os papéis não foram vendidos posteriormente).

Abre aspas: fico com pena desses CFOs/DRIs que não fazem a menor ideia do resultado de suas empresas e saem por aí comprando ações em período vedado. Devem desconhecer a legislação sobre o tema. Deveriam ganhar um adicional de periculosidade. A política de negociação deve ter sido “encomendada” a um escritório de advocacia, no melhor estilo “copia-cola”, ou seja, aquele texto que só trata do óbvio. Fecha aspas.

Mas como nesse Brasil varonil termo de compromisso é sinônimo de “ficha-limpa-para-continuar-Administrador” o jovem mancebo ofereceu R$ 50 mil para acabar com  o processo, negociou um pouquinho e jogou tudo para debaixo do tapete por R$ 150 mil. Nada mal para um crime que poderia terminar na Papuda.
Enquanto os nobres deputados integrantes da Comissão de Finanças e Tributação não se mexem para avaliar o Projeto de Lei 1851/2011, que pretende restringir o uso de termos de compromisso para infrações graves no mercado de capitais, só nos resta esperar o próximo caso, devidamente irritados.

Mas, e por falar em Papuda, não se surpreendam com a lista de empresas ganhadoras do Anuário Valor 1000, que reúne as melhores empresas em 25 setores na visão do respeitado jornal: tem empreiteira líder de consórcio corruptor na lista, dessas que CEO dorme em Curitiba por uma temporada. Deve ter sido erro de digitação do estagiário nº 53, sempre ele. Já sei: a “assanhadinha graciosa das Alterosas” adotou “medidas corretivas” como a criação do cargo de diretor de Governança, nomeação de conselheiros “independentes” (daqueles amigos do Citi que são convidados para casamentos suntuosos), passou litros e litros de água sanitária da portaria e pintou a sede com um branco neve da Suvinil. Como diz um grande amigo do Itaim: lavou bem? Então tá tudo limpinho novamente.

Abraços a todos,

Renato Chaves

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