Conselho de administração fast food?
Em recente encontro de conselheiros realizado na olímpica cidade
maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro ouvi relatos que me deixaram
preocupado. Parece que a qualidade das decisões nas grandes empresas está
sempre comprometida pela presa. Tudo é para ontem e os executivos usam e abusam
de slides de PowerPoint para agilizar as discussões.
Ok, a famosa ferramenta realmente ajuda a organizar as ideias, revelando
os principais pontos de páginas e mais páginas de contratos e planilhas. Mas
não será que o exagero pirotécnico das apresentações coloca uma cortina de
fumaça em itens importantes, seja por insegurança dos executivos ou até má fé?
Penso que algumas questões merecem reflexão:
· Uma reunião mensal é suficiente para a tomada de decisões cada vez
mais complexas, de empresas com operações mundo afora? Acreditem, tem empresa
listada no Novo Mercado que fatura R$ 15 bilhões/ano, paga R$ 8 milhões para o presidente
do conselho e realiza somente 5 reuniões por ano (vide postagem de 12/12/2015 - Conselho de Administração: reuniões
para inglês ver). Fica parecendo reunião/almoço
de ex formandos da Poli ! !!
· Pautas imensas com 10/20 assuntos “pesados” para deliberação são
razoáveis?
· Culpa dos conselhos, que reservam pouco tempo para as decisões?
Seu conselho faz pausa para o almoço? Acreditem, tem conselho que perde uma
hora no trânsito para comer peixada no Coco Bambu do Meireles !!! Penso que o
ideal é o sistema “cantor de churrascaria”: enquanto um “canta” (o executivo) os
outros comem. Travessas com comida em uma mesa de apoio no canto da sala e
pratos na mesa.
· O tamanho do conselho atrapalha? Convenhamos, reuniões com 11/13
membros mais parecem assembleia de condomínio na Barata Ribeiro 200 !!!
· Conselheiros “profissionais”, que atuam em 4, 5 conselhos, estão
dedicando tempo suficiente para as reuniões? Sobra tempo para ler contratos de
500 páginas? “Meu avião sai às 17h” é um alerta comum por aí...
· Ou será que a culpa é dos executivos, interessados em aprovar suas
propostas sem muitas polêmicas? Afinal, se cada conselheiro que ler o contrato
de “trocentas” páginas for questionar metade das cláusulas a empresa não fecha
negócio, dirão os executivos mais céticos....
· E o que dizer daquelas negociações “costuradas” até a véspera da
reunião do conselho, com prazo curto para resposta? Um resumo do contrato em
slide, com o depoimento do diretor jurídico e de outros assessores “anexos”,
garante segurança na decisão?
Ok, os contratos/documentos podem (e devem) ser anexados às atas,
mas e o material de suporte, os tais slides? Sugiro que também seja anexada à
ata a versão projetada na tela, devidamente rubricada pelo secretário da
reunião. Pois amanhã ou depois algum detalhe “projetado” na parede pode servir
de servir de prova de “defesa” de um projeto que “deu errado”. Palavras se
perdem ao vento, diz o ditado.
Mas nem tudo são trevas... Ouvi relatos positivos, como a
implantação de um padrão de nota técnica para o encaminhamento de propostas
para o conselho. Simples assim: se a diretoria não encaminhar um conjunto
mínimo de informações, de forma padronizada, com antecedência é claro, o
assunto nem entra na pauta da reunião. Vale o registro que esse esforço
normalmente parte de conselheiros eleitos com apoio de investidores
institucionais, como a Previ e fundos de private equity.
Porque o que tem que ser estilo “fast food” é o almoço no dia da
reunião, e não a tomada de decisão.
Abraços a todos,
Renato
Chaves
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