Conselho de Administração: confraria das gravatas e canetas Mont Blanc.
É a
conclusão que podemos tirar da matéria publicada no jornal Valor do dia 15/10
("Transição para cargo de conselheira ainda é difícil para
executivas"), que aborda pesquisa elaborada pelo IBGC: diz a manchete que
80% das vagas são preenchidas por indicação !!!
Como
assim? Criam-se leis para regular a seleção de conselheiros em empresas
estatais com o uso de head hunters, mas nas outras empresas de
capital aberto o que vale é o jeitinho, a indicação amiga? Quanta incoerência,
afinal todas captam a poupança popular via bolsa de valores....
Independente de pesquisa, o que vemos são conselhos de administração formados majoritariamente por homens brancos, de preferência engenheiros de idade "avançada", daqueles que entram na fila de prioridades do aeroporto. O que dizer do conselho de um grande banco brasileiro que apresenta uma média de idade de 68 anos? Não acho que um jovem de 26 anos tem maturidade suficiente para assumir um alto cargo, mas me parece razoável dar espaço para “garotos” de 45/50 anos nos conselhos e criar comitês com jovens empreendedores. Afinal, não estamos na era digital?
Ok,
certamente esses senhores são excelentes profissionais, com boa formação, até
no exterior, grande experiência, mas que sofrem de um grande "mal":
pensam muito parecido. E pior, por serem conhecidos de longa data dificilmente
colocarão suas discordâncias na mesa de forma enfática.
Na composição de conselhos prevalece a lógica do "conforto". Sim, nada de grandes polêmicas, votos divergentes, tem que prevalecer a medíocre lógica do consenso para tudo.
E aí devem pensar que mulheres atrapalham.... Como explicar um percentual inferior a 4% de conselheiras (excluídas as conselheiras herdeiras)? Questionam muito, são muito “certinhas”, zero de tolerância com desvios de qualquer ordem, e ainda inibem o uso de palavrões e piadas idiotas nas reuniões? Não jogam golfe, futebol, pôquer, nem tão pouco pilotam iates luxuosos em Ilhabela? Ah, são muito “humanas/coração mole” e não tem tolerância com questões de assédio moral/sexual. Assunto sem importância, dirão alguns. Mas acreditem, um passarinho me contou que 70% das denúncias recebidas pelo canal de uma grande empresa brasileira estão relacionadas com assédio sexual !!! Será que Freud explica?
E a
diversidade racial? A matéria do jornal não menciona nada, mas DUVIDO que
tenhamos mais do que meia dúzia de negros em conselhos Brasil afora.
Que tal
ter um negro nascido e criado no Irajá, que estudou na Escola Municipal José do
Patrocínio e na UERJ e trabalhou em todos os setores da empresa, desde o “chão
de fábrica”, ao invés de engenheiros formados na Poli (ou na PUC), que
estudaram nos EUA e só trabalharam no mundinho financeiro – Citi, Chase ou
Boston – antes de serem contratados como analistas, começando o jogo da vida corporativa
na “casinha nº 3”.
Querida CVM, já passou da hora de incluir no capítulo 14 dos Formulários de Referência informações sobre diversidade, como o percentual de mulheres e negros em cargos gerenciais. Distribuição de pessoal por área e o índice de rotatividade é muito pouco.
Assim estaríamos contribuindo para o
debate e expondo as empresas que fazem propaganda enganosa sobre compromissos
com o assunto.
Como avanças
na diversidade se essa “seletividade perversa” começa nos cargos gerenciais?
Abraços a todos,
Renato Chaves
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