Será mesmo somente ação social/cultural?
Instituto criado por grande empresa para ações sociais é tudo
parecido: os relatórios anuais em papel couchê, recheado de fotos de crianças
sorridentes nos refeitórios de escolas que mais parecem naves espaciais, com
oitocentas mil citações sobre sustentabilidade, eventos culturais cheios de
pompa, tudo no melhor estilo Ricúpero: o que é bom a gente fatura, o que é ruim
a gente esconde.
E assim, os olhos até do mais cético e rabugento conselheiro
fiscal se enchem de lágrimas. O pobre conselheiro perde o feliz semblante de
morador de Copacabana e fica parecendo uma sexagenária carpideira de Governador
Valadares.
Mas muito cuidado nessa hora, pois as aparências enganam (aos que odeiam e aos que
amam – viva Elis).
Por vezes, parte dos recursos encaminhados pela empresa
mantenedora do Instituto não chegam às escolas “adotadas”, indo abastecer até,
acreditem, ONGs criadas por políticos pra lá de suspeitos, do tipo campeão em
delações premiadas.
Relatos recentes, publicados na imprensa em uma operação que
poderia muito bem ser chamada pela Polícia Federal de “Inconfidências entre
mineiros”, revelam que o presidente de um certo instituto, criado por uma S/A
listada que atua fortemente em Minas Gerais, foi pego em troca de mensagens com
o presidente atleticano de uma empreiteira mineira (desses que adora uma tornozeleira eletrônica – desculpas leitores
pela gracinha, não resisti), empreiteira esta
controladora da empresa de capital aberto mantenedora do Instituto, “combinando”
a destinação de recursos para a ONG de um ilustre senador, igualmente mineiro. Fico
imaginando o quanto de pão de queijo não rolou nessa ação entre amigos...
Gostaram do título da operação? Então vou aproveitar o verdadeiro
surto criativo e atacar, com a devida liberdade poética cibernética, com a
releitura de um conhecido poema, só para relaxar nesses tempos difíceis:
Minha terra tem empreiteiras
Que muito sabem roubar
Mas os desvios combinados na Savassi
Podem terminar no Paraná
Brincadeiras à parte fica o alerta para investidores e
conselheiros: tem que fiscalizar esses institutos da mesma forma como são
fiscalizadas todas as empresas de um grupo econômico. Com orçamento anual,
regras para aplicação de recursos, conselhos/comitês, prestação de contas, etc,
etc. Nada de poder soberano na mão do presidente.
Porque, no frio entardecer de Curitiba, um “pequeno desvio de
caráter” (essa
eu já ouvi: pra que perder tempo fiscalizando R$ 300 mil em uma empresa que
fatura R$ 28 bilhões?), uma contribuição de
recursos de forma “não republicana” para um “nobre” deputado ou senador pode se
transformar em uma enorme dor de cabeça corporativa, com direito a sinal de
rádio freqüência no adereço de tornozelo.
Simples assim.
Abraços a todos,
Renato
Chaves
Temos que tomar cuidado, pois tem instituições que são acionistas de companhias S/A e fazem suas atuações sociais com os recursos dos dividendos.
ResponderExcluirPois é Roberto, com raras exceções esses institutos são verdadeiras caixas pretas. E quando o acionista questiona é exposto ao lado "bonito": Escolas, eventos culturais,etc. Mas nada de revelar o volume de recursos investidos, a forma de decisão, rol de favorecidos,etc.
ResponderExcluirDiante da falta de informação estou questionando as empresas via CVM.
Um forte abraço