Assembleias de acionistas no Brasil: entre o trágico e o cômico.
Definitivamente a governança corporativa das empresas listadas no
Brasil precisa melhorar, e muito. Como nos canta a magnífica Marisa Monte, em
música de Candeia: é “rir pra não chorar”.
Até no ambiente de grandes empresas, que deveriam privilegiar a
adoção de boas práticas de governança corporativa para angariar mais
investidores, o que vemos é um total desrespeito aos acionistas, falta de
consideração mesmo. Nem quero imaginar o que acontece nas empresas “menores”.
Participei em mais de 10 assembleias* de 3 formas: de corpo e
alma, via SEDEX (por boletim de voto) e por meio
eletrônico. Além disso, acompanhei outras 17 assembleias onde sou acionista,
mas não votei porque as empresas não ofereceram o boletim de voto à distância
ou por coincidência de data ou ainda por conta da distância da praia de
Copacabana.
A partir da aquisição de ações de empresas que usam
voluntariamente uma liminar judicial para afrontar a CVM e não divulgar
informações sobre a remuneração de executivos (em 28 empresas), eu tive a
oportunidade de vivenciar a experiência de ser um “nano” investidor nas
assembleias gerais (Obs.: nunca tenho mais do que 50 ações entre milhões/bilhões de
ações do capital social da cada empresa).
Duas observações iniciais: (i) os casos de votos contrários às
propostas de remuneração dos Administradores surpreenderam. Teve empresa com
22% de rejeição à proposta da Administração, assembleia suspensa pela briga
entre controladores e minoritários e ainda assembleia que simplesmente rejeitou
a proposta - parece que os acionistas
acordaram do sono profundo; (ii) merece “nota de pesar” a participação
acanhada dos investidores institucionais nacionais, como fundos de investimentos
e fundos de pensão – onde fica o dever
fiduciário?
Como um “nano” investidor sofri. E como sofri. Mas confesso: foi
um sofrimento saudável, parecido com correr uma meia maratona no Deserto do
Atacama, o que me permite sugerir mudanças em práticas nefastas que são
adotadas Brasil afora. E nas empresas de Novo Mercado? Vale tudo, como dizia o
saudoso Tim Maia.
Ao longo das próximas postagens vou relatar “causos”, sem
identificar o “pai da criança” (recomendação do meu guru advogado), sobre o que rolou nessas assembleias, tanto nas virtuais como
nas presenciais.
O assunto é tão grave que a AMEC já planeja realizar um seminário
sobre problemas em assembleias.
Por fim, vale frisar que a CVM já foi notificada dos fatos ocorridos,
sem denúncias, tão somente a título de sugestão para adoção de melhorias.
Fica a certeza que em 2017 vamos ter mais participação, com a
obrigação do boletim de voto à distância para as empresas mais importantes do
País.
Abraços a todos,
Renato
Chaves
*
TIM, Gerdau, Oi, CPFL, Iguatemi, B2W, Vale, BrMalls, Lojas Americanas, Banco Itaú
e Cielo.
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