Temporada de publicação de demonstrações financeiras: festa no canil.
Todo ano é assim: empresas de capital aberto gastam milhões e
milhões de reais para publicar suas demonstrações financeiras completas em
jornais de grande circulação. E como o único sobrevivente especializado dessa mídia quase
extinta é o Valor Econômico, o Sr. Emerenciano, entregador de O Globo e afins nessa
área de Copacabana, continua empregado. Sim, confesso: sou um dos últimos
assinantes da versão imprensa; assim como gosto de ler livros em papel, gosto
de largar o bom e já velho tablet por algumas horas na mesinha de cabeceira.
O fato é que as gordas demonstrações financeiras não tem muita utilidade para os investidores. Primeiro porque é digno de Missão Impossível 4 ler algo com fonte Arial 6. Quem consegue essa proeza pode perfeitamente pilotar um caça MIG ou conduzir um guindaste Liebherr LTM 11200-9.1.
Segundo: o que investidores e analistas
precisam é transportar números para as suas planilhas eletrônicas. Resultado:
todo aquele desperdício de celulose vira “tapete” para as necessidades de
cachorros. Alias, façam como eu: guardem as montanhas de DFs desses meses e
façam uma doação para a SUIPA - Sociedade União internacional Protetora
dos Animais (www.suipa.org.br/). Pode doar ração também... A cachorrada agradece.
Pergunto então por que a brava associação das empresas de capital
aberto não patrocina uma ação na justiça para “corrigir” essa aberração
temporal, já que os legisladores que criaram a nossa querida Lei 6404 não
tinham como prever a criação dessa danada WEB? Que tal termos “DFs Express” nos
jornais, só balanço e DRE, sem notas explicativas, e DFs completas somente na
WEB... Será que falta coragem para brigar com os poderosos barões da mídia?
Todos concordam, inclusive o regulador, que esse custo/desperdício
deveria ser evitado, mas ninguém se mexe. E pior, presenciamos boquiabertos a
mesma associação brigando para que as grandes empresas de capital fechado elaborem
suas DFs no mesmo padrão das SAs abertas e engavetem tais documentos. Zero
transparência. O que seria uma forma de diminuir a assimetria concorrencial,
pois as “fechadas” sabem tudo das “abertas”, se transforma em uma pergunta de
cabine de elevador: para que mudaram a Lei obrigando as grandes empresas
“fechadas” a mudar de padrão? (vide
postagem do dia 14/1/16 - Transparência pra que?)
Certamente não estamos falando de transparência sobre as
informações de “Ltdas” investidas por companhias abertas, como a combativa
associação tenta induzir os atentos leitores da Revista RI (edição nº 200 –
fev/16). O que o povo da Mangueira quer saber, além de poder comparar os Wall
Marts/Carrefours da vida com o Pão de Açúcar, é como funcionam as estruturas
societárias ACIMA das
sociedades de capital aberto. Muitas delas com sede em paraísos fiscais, com
nenhuma transparência. Os amigos leitores lembram dos paraísos utilizados por “oportunísticos”
bancos de investimento na montagem de pirâmides de controle de ativos no Brasil
de algumas empresas privatizadas na década de 90 (da série “pequenos investimentos, grandes oportunidades”)?
Recordar é viver ...
Se não for por transparência, o que justifica a mudança na Lei,
obrigando grandes empresas a adotar práticas contábeis internacionais e de
auditoria? Tem que abrir a caixa preta geral, não só dos políticos com contas
na Suíça/Ilhas Jersey/Panamá.
Por essa e outras que, passado o carnaval, vemos que alguns
agentes do nosso mercado continuam tirando nota máxima no quesito hipocrisia,
defendendo acionistas controladores até debaixo d’água. É DÉEEEISxi, nota DÉEEEISxi
!!!, dizia o polêmico alvinegro Carlos Imperial.
E já que falei da campeã Estação Primeira: Axé pra quem é de Axé. Aleluia
pra quem é de Aleluia. Saravá pra quem é de Saravá. Shalom. Amém pra quem é de Amém.
Namastê. Viva a diversidade em todos os campos.
Abraços a todos,
Renato
Chaves
Renato,
ResponderExcluirApenas um adendo, complementar ao seu raciocínio, o grande beneficiário desta aberração não são o(s) jornal(is) de grande circulação, o maior beneficiário de todos é próprio ESTADO, afinal as publicações no DO - Diário Oficial são obrigatórias e não tem desconto, negociação.
Jornal de Grande Circulação você mencionou o líder neste segmento (Valor Econômico), mas existem diversas opções (Folha, Estadão, DCI, Jornaleco Regional) que permitem as comparações de orçamento e até negociação, mas o DO não tem escolha.
Para ilustrar: em um grande cliente da MZ o orçamento de publicidade legal para 2016 era de R$ 5,3 mm, deste total 62% era destinado ao Diário Oficial, o saldo divido entre publicações de renome nacional e outras de atuação regional, poderia ser reduzida em até 40% (R$ 1 mm) se fossem escolhidos apenas "jornalecos", mas o maior "saving", seria eliminar o DO (R$ 3,3 mm). Será que o ESTADO vai abrir mão de uma receitinha tão fácil?
Abs
Denys Roman
MZ Group
https://br.linkedin.com/in/denysroman
Realmente a publicação no DO é a parte "invisível" dessa história.
ExcluirO ideal seria uma ação judicial para reconhecer que a divulgação via WEB ė a que atinge o maior número de investidores, com custo insignificante.
Grato pelo comentário tão esclarecedor.
Um abraço
Renato Chaves
Caro Renato,
ResponderExcluirParabéns por mais uma lúcida e oportuna análise. Conquanto seja difícil enfrentar o poder da grande imprensa, vale a pena persistir.
Abraços,
Wilton Daher
Pois é Wilton, penso que caberia à essas associações de empresas patrocinar ações na justiça. Mas todos temem enfrentar a imprensa. Processar o Diário Oficial é fácil.
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