Quer evitar processo? Seja cético, sempre.
E não acredite em números. Pode parecer estranho um contador fazer tal afirmação, mas a dura realidade nos revela que no mundo corporativo papel em branco aceita qualquer desaforo, e quem “fabrica” os números está cada vez mais desaforado. Quem manda nas empresas são os executivos e não os conselhos.
Vejamos alguns casos
interessantes de grandes projetos de grandes empresas que fizeram “água”:
- Caso 1: a gigante da mineração Anglo American estimava gastar US$ 2,5 bilhões no chamado projeto “Minas-Rio”. Vai gastar US$ 8,8 bilhões, com 2 anos de atraso (segundo o jornal Valor do dia 3/9). Algum processo contra os Administradores? Nada. A cotação dos papéis sofreu, mas certamente os executivos que saíram ficaram um pouco mais ricos...
- Caso 2: outra gigante da mineração gastou US$ 3,7 bilhões na compra de ativos em Moçambique em 2011, posteriormente vendidos por incríveis US$ 50 milhões. Isso mesmo, apenas US$ 50 milhões. E a história se repete: teatrinho de insatisfação do conselho, CEO pedindo demissão depois de baixas contábeis de mais de US$ 14 bilhões, mas com bônus garantido para curtir uma bela aposentadoria em alguma praia australiana. Em 2011 esse CEO recebeu nada menos que £$ 4,5 milhões; em 2010 somente £$1,6 milhão (em dinheiro vivo, claro). Algum processo, bens bloqueados, inabilitação? Nada.
Como saber se o conselho
atuou com diligência? No Brasil isso é impossível, pois temos um agravante: impera
a verdadeira arte de evitar a transparência com atas que dizem pouco ou quase
nada. Não se trata de “cultura dominante”, mas sim um desejo intencional de não
ser transparente. Traduzindo para o bom português, sem blá, blá, blá: é má fé,
cara de pau mesmo. Não é à toa que as atas são geralmente escritas por
competentes advogados, prontos para atender desejos de controladores com
rebuscados textos para jogar cinzas vulcânicas sobre a transparência. Quem
nunca viu uma ata relatando que determinado tema foi aprovado por maioria?
Resumindo: ao aprovar um
projeto tenha a certeza que os gastos estimados serão extrapolados. Seja
cético, questione, peça estudos externos (contratados pelo Conselho e não pelo
CEO – quem paga manda, diz o ditado) e faça constar seus registros em ata.
Sempre.
Abraços a todos,
Renato
Chaves
Boa, Renato !! Faltou falar dos projetos das Refinarias Abreu e Lima e o COMPERJ, ambas da Petrobrás ... abração
ResponderExcluirOdilon
Caro Odilon,
ExcluirNo momento que um grande número de ativistas discute a responsabilidade de Administradores é importante ressaltar que os problemas acontecem em todo tipo de empresa, independente do perfil do controle.
Lembro que recentemente uma grande empresa nacional se desfez das operações de lácteos e carne bovina, após constantes prejuízos. Nenhuma palavra dos investidores ativistas... Por que será?