Remuneração de executivos: parece que os investidores abriram o olho.
Eis
que voltando de muito perto do chamado “fim do mundo”, tendo percorrido
10.621,097 km (10.600 km voando e somente 21,097 km correndo), me deparo com
uma notícia animadora no jornal Valor de 08/4 tratando da insatisfação
declarada de um sócio de uma gestora de recursos estrangeira com a remuneração
variável de um certa empresa listada na Bovespa. E a conta apresentada pelo
corajoso investidor é interessante: “noves fora” o desempenho pífio dos papéis
no pregão (perda de 36% desde a oferta pública x 54% de ganho do Ibovespa no
mesmo período), a justa indignação se baseou no fato dos acionistas terem
recebido US$ 86 MM em dividendos/bonificações, enquanto os gulosos executivos
embolsaram a faraônica quantia de US$ 137 MM, somente em remuneração variável
!!! Para uma empresa sediada nas Bermudas, cujo BDR é espelho de ações sem
direito a voto listadas em Luxemburgo (socorro !!! Essa praça é uma referência mundial em
termos de governança corporativa?),
só resta ao investidor fazer seus pedidos jogando moedinhas na Fontana di Trevi
e depois tomar um porre de Fernet Branca nos restaurantes de El Calafate.
Para
colocar mais fogo na fogueira, ligo o lança-chamas na direção da falta de
transparência na divulgação da remuneração da turma do andar de cima com uma
sugestão: que tal a regulação obrigar a divulgação da relação entre a maior
remuneração e a remuneração média dos “colaboradores”. Tal relação é objeto de
interessantes estudos lá fora, como nos revela Lynn Stout em seu livro
"The shareholder value mith" (leitura sugerida por um amigo do Blog):
depois que o Congresso norte-americano criou incentivos para o pagamento de
remuneração baseado em performance, em 1991, a relação entre a remuneração dos
CEOs e a média paga aos empregados em grandes corporações pulou de 140 para 500
em 2003.
Acredito
que tal indicador, na forma sugerida, não irá fomentar uma terrível onda de
sangrentos sequestros, como deixa a entender perante a Justiça o instituto
carioca com sotaque paulista, defensor dos fracos e oprimidos do mercado de
capitais, mas servirá para abrir a caixa preta para investidores avaliem quem
usa a remuneração como um instrumento legítimo de incentivo e alinhamento de
interesses e quem está mais preocupado em encher os bolsos de dinheiro,
rapidamente.
E
para não ficar só no discurso vou mandar a ideia para a Audiência Pública CVM SDM
Nº 03/2013 (contribuições até o dia 14/5). Quem sabe com o "respaldo"
dessa visão externa a sugestão não é aceita? “Sonhar não custa nada, o meu
sonho é tão real”, já dizia o famoso samba-enredo de 1992 da queridíssima
Mocidade Independente de Padre Miguel.
Abraços
a todos e uma boa semana,
Renato Chaves
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