Os comitês de assessoramento estão sendo vulgarizados?
Por muito tempo
defendi e continuo defendendo a criação de comitês de assessoramento nos
conselhos de administração, especialmente em grandes organizações (acreditem, teve CEO amigo do ex-presidente que resistiu até quando pode). Por anos e
anos de observação em posição privilegiada fui levado a acreditar que assuntos
complexos em grandes corporações, como questões financeiras (imagina um
orçamento ou a consolidação da posição de caixa de uma empresa com controladas
em 15 diferentes países !!!) e recursos humanos (incluindo a sucessão de
executivos), deveriam ser analisados mais detidamente em um fórum apartado do
conselho, com a emissão de opiniões conclusivas para suportar decisões futuras.
Solicitar que um comitê de auditoria avalie o cumprimento de metas para
pagamento de bônus faz todo o sentido e um dia de reunião, mesmo que mensal,
não é suficiente para discutir temas tão complexos.
Mas parece que uma
boa idéia está sendo utilizada como remédio para todos os males. E assim surgem
comitês genéricos, que ficam de prontidão para resolver opinar sobre qualquer
problema societário – parece ortopedista
de emergência, que trata desde lombalgia até fascite plantar.
Recentemente a
imprensa noticiou que uma proeminente empresa franco-brasileira criou um comitê
de governança para, dentre outras atribuições, “promover as melhores práticas
de governança e processos de governança corporativa; zelar pelo bom
funcionamento do conselho de administração, da diretoria executiva e dos órgãos
auxiliares da administração e pelo relacionamento entre tais órgãos e os
acionistas”. Ora bolas, se o conselho de administração não está funcionando bem
a culpa é de quem está lá, especialmente do seu presidente (que geralmente
recebe uma remuneração diferenciada)... Será que precisa de um comitê
permanente para tratar de “relacionamentos”? Tratar de relacionamentos com
sócios? Certamente não estão falando de acionistas minoritários... Será um
comitê mediador de conflitos dos sócios controladores, mas pagos por todos os
sócios? Eles é que passem um final de semana trancados com seus advogados em um
resort localizado em alguma ilha isolada da Polinésia Francesa, sem celular, e
resolvam as questões mal resolvidas (isso é que é castigo hehehe...). Saiam na porrada, contratem o
mediador que trabalha na Globo domingo à noite se necessário for, mas não criem
um comitê permanente do conselho pago por todos os sócios com essa finalidade.
Corre-se o risco de vulgarizarmos uma ferramenta tão importante para a
Governança Corporativa.
Abraços a todos e uma
boa semana,
Renato
Chaves
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